segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A primeira manchete

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A primeira semana de trabalho em 'A Tribuna', em maio de 2006, foi movimentada: ao mesmo tempo, ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC, que acompanhei) e desdobramentos das investigações sobre a Máfia dos Sanguessugas -- um suposto esquema entre políticos e empresários para a compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras e ONGs no País inteiro. A aquisição era feita com dinheiro oriundo de emendas de parlamentares ao Orçamento do Governo Federal.

A Baixada Santista estava no meio dos dois problemas. Mas, sobre as ambulâncias, uma instituição chamada Associação Beneficente e Promocional Movimento Alpha de Ação Comunitária (Maac), vinculada à igreja evangélica Assembleia de Deus, de Santos, comprou 13 furgões de uma empresa suspeita: a Suprema-Rio Comércio de Equipamentos de Segurança e Representações, do Rio de Janeiro, cujo proprietário havia sido preso após ter seu nome citado em denúncias de irregularidades. O dinheiro com que a Maac comprou os veículos provinha de emendas de deputados federais sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Em meio a uma avalanche de informações que pipocavam pelo Brasil, acabei tendo conhecimento de uma notícia: a de que, diante das irregularidades constatadas, o Ministério da Saúde decidira suspender o pagamento de convênios para compra de ambulâncias que fossem financiados com emendas parlamentares. Essa informação me foi transmitida pela assessoria do ministério, discretamente, no meio das respostas de um questionário que eu havia mandado, um dia antes, sobre o convênio com a Maac e as providências a serem tomadas para sanar esse e os demais problemas encontrados.

Eu não sabia (até porque não tinha tamanha pretensão): a notícia que me deram era um furo nacional. Ninguém tinha dado nem sequer a cogitação de que os cerca de 2.600 convênios em andamento, na época, poderiam ser bloqueados.

Mas eu tinha só uma semana no jornal. Compreendo que seria difícil confiar, de olhos fechados, em alguém que acabara de chegar. Eram por volta de 23 horas quando, já na cama, ouvi o celular tocando. Na linha, Mário Jorge, editor de Primeira Página do jornal.

-- Rafa, onde foi que você viu essa informação dos convênios?

-- Estava no meio das respostas que o Ministério da Saúde me mandou -- respondi.

-- Você tem como me mandar esse documento? Pode ser a manchete de amanhã.

Tinha, mas pedi paciência: naquela época, eu não tinha banda larga em casa. O documento ia levar uns dez ou 15 minutos para chegar, em conexão discada (ligar o computador, apenas, demorava quase cinco minutos). Enviei o texto, confirmei o recebimento, fui dormir.

Foi minha primeira manchete em 'A Tribuna'.

Quatro anos e meio depois, o caso dos sanguessugas ainda está por isso mesmo.

3 comentários:

  1. Bacana sua ideia. Gostei! Gostei mais ainda pq tenho certeza que aqui teremos um material de consulta super útil. Comentado pelo autor, melhor ainda.

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  2. Teremos versão sem cortes?

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  3. Olá, Nando. Teremos, sim. Como diziam os gerentes de bancos sobre os clientes que nada deviam na praça, não há nada que me desabone. Abraço.

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