tag:blogger.com,1999:blog-54479290608924738362024-02-06T23:20:18.534-03:00Rafael Motta - reportagensNão que minha carreira seja incrível, nem que tenha algo de tão espetacular. Na verdade, acho difícil para um repórter classificar a própria trajetória. Mas o que pretendo fazer neste blog é publicar algumas das reportagens que mais me marcaram e contar os bastidores de cada trabalho. Veja lá o que você acha. Boa leitura.Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-15010314219172667912011-02-17T11:02:00.001-02:002011-02-17T11:03:23.073-02:00Depois não entendem...<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; font-family: Verdana,sans-serif; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjc_zlRw3JRHANrDi-RIp5Ty-MfcpnQSjSRidHxhVLwkthtcJHMdz0n2RKEOPjckY427YyIUNIExMu_antN0wz2sSBdK0l3RmXECyNqHA9hKdiNarxtP3sMaALwrwlUyK4U4k2L3zaD4DBf/s1600/AT-14-11-10-A4A5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjc_zlRw3JRHANrDi-RIp5Ty-MfcpnQSjSRidHxhVLwkthtcJHMdz0n2RKEOPjckY427YyIUNIExMu_antN0wz2sSBdK0l3RmXECyNqHA9hKdiNarxtP3sMaALwrwlUyK4U4k2L3zaD4DBf/s200/AT-14-11-10-A4A5.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>Clique para ampliar</i></td></tr>
</tbody></table><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">... por que o Nordeste brasileiro mostra sinais de desenvolvimento que não teve nos últimos séculos dos séculos. Quem é da Baixada Santista vai entender: no Ceará, existe VLT! É a sigla para Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), promessa feita pelo Governo Estadual desde 1999 e que, cinco governadores depois, não passou disso.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Lá, eles chamam o VLT (o primeiro a entrar em operação no Brasil) de Metrô do Cariri, em referência à região metropolitana onde ficam as duas cidades atendidas por esse meio de transporte: Juazeiro do Norte, terra de Padre Cícero, e Crato. Proporcionalmente, é mais ou menos como se fossem Santos e São Vicente.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><a name='more'></a><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas, antes de contar a história dessa reportagem, vou dizer o que seria feito antes. A ideia inicial de um dos editores-executivos de 'A Tribuna', Dario Palhares (que deixou o jornal no final do mês passado), era que eu viajasse a Curitiba, no Paraná. Isso foi no final de agosto passado. Essa capital é conhecida por ter se transformado em referência internacional em transporte coletivo, com corredores de ônibus que levam passageiros aos destinos de forma rápida, relativamente barata e livre de congestionamentos.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">O problema é que a viagem a Curitiba dependia de uma resposta que jamais recebi: do escritório do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que era prefeito do município em meados da década de 1970, quando teve início a introdução do sistema de BRT (Bus Rapid Transit; em português, Transporte Rápido por Ônibus).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Sem a entrevista com Lerner, tive de desmarcar dois encontros que havia conseguido agendar em Curitiba, em horários que dariam certo com minhas pretensões: com os dirigentes do órgão municipal de trânsito e do escritório local de planejamento da cidade, que trabalham conjuntamente para que o transporte coletivo atenda as necessidades e os planos de crescimento de Curitiba (viu, Prefeitura de Santos?).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pois é, Curitiba: fica para a próxima.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">A pauta acabou meio que pendurada. Vez por outra, o Dario insistia. Mas via que, diante da escassez de repórteres e das pautas que eu vinha recebendo (e, confesso, nem me lembro mais direito quais eram; ah, sim: as eleições de 2010!), o assunto ficava para depois.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Até que, nos últimos dias de outubro, o tema voltou à tona -- resgatado pelo Dario. Eu teria de ir a Campinas (veja, na matéria, o desastre que aconteceu com o VLT de lá). E, dias depois, meu destino seria o Ceará.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Não, companheiros de infortúnio (como diz o Hamilton Iozzi Correia, coordenador de Editorias do jornal), nada de lindas praias, nada de turismo, nada de descanso: o negócio era conhecer o Metrô do Cariri, ao Sul do Ceará, que funcionava desde dezembro de 2009 e virou exemplo de integração metropolitana, visto que ligava duas cidades da região e os trens que o faziam eram produzidos em outro município vizinho, Barbalha, por uma empresa local.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">E, no dia seguinte a Finados, madruguei no Aeroporto de Congonhas, em Guarulhos, rumo ao Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes, em Juazeiro do Norte, com escala em Recife, Pernambuco.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">(Um parêntese: já repararam que toda região de porte bem mais ou menos tem um aeroporto local? De novo, só aqui, na Baixada Santista, certas coisas não acontecem. Fecha parênteses.)</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Logo de cara, eu tinha uma preocupação: imediatamente após o desembarque, às 14 horas, teria de encontrar o fotógrafo que contratamos para registrar o VLT de lá. Tive sorte dupla: o aeroporto só tem uma porta para entrada e outra para saída e o fotógrafo, Cícero Valério, me esperava com uma folha de caderno nas mãos, com meu nome e o do jornal escritos.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Era uma tarde quente (35 graus, conforme anunciara pouco antes o comandante do voo) e seca. Ainda bem que o táxi tinha ar-condicionado. Fomos ao hotel deixar as malas. No quarto, Cícero, que é evangélico, me pediu para fazer uma oração por mim e, de lá, fomos à Estação Fátima, o ponto final do VLT cearense.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Minhas impressões sobre o Metrô do Cariri não poderiam ser melhores. Afora o ruído do motor a diesel, nada para reclamar. Pontual, limpo, bonito, barato (R$ 1 por 13 quilômetros de percurso, cumpridos em 40 minutos; em Santos, a tarifa dos ônibus municipais vai subir de R$ 2,50 para R$ 2,65 à meia-noite de sábado).</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nessas horas, quem é paulista e tem um mínimo de vergonha na cara se sente ridículo. Com tudo que há de difícil por aquelas bandas, fazem as coisas. Aqui, só nos dão desculpas. O pior é que, de modo geral, as aceitamos.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Saindo do trem, fui com Cícero a uma lan house, pois ele teria de gravar um CD com as 48 fotos que tirou. Feito isso, entreguei a ele o pagamento, nos despedimos e fui para o hotel.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pouco antes de ir dormir, pedi ao recepcionista que me acordasse às 7 da manhã. Queria me levantar cedo para andar um pouco pelas redondezas. Não foi preciso: como o Ceará é um dos estados onde não vigora o Horário de Verão, acordei com a luz do dia. Pelo horário de lá, eram 5h38! Com o café servido só a partir das 6h30, continuei escrevendo a matéria, o que tinha começado a fazer na véspera.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Depois do café, perambulei (lembra-se desse verbo?). Outra constatação: o nordestino, mesmo na área urbana, acorda cedo. Às 7 horas, ruas já cheias de gente e estabelecimentos começando a abrir as portas. Praças movimentadas. Vendedores de leite fresco em lombo de burro. E Padre Cícero em todo canto: no nome da praça, na placa da rua, no anúncio da pousada, nos santinhos, no formato da cabine do telefone público (em vez de um orelhão, um chapelão à moda do padre) e tantos outros objetos vendidos nas barraquinhas diante da Capela do Socorro -- onde, ao lado, fica o cemitério em que se depositaram os restos mortais de Cícero Romão Baptista.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pois bem, voltei ao hotel, escrevi mais um pouco, fui comer e chamei o táxi para o aeroporto. Não tinha contado, mas, desde a noite anterior, uma coisa me chamava a atenção: um adesivo na porta do hotel, onde se dizia "Aeroporto do Cariri já!".</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tanto que perguntei ao motorista (o mesmo da véspera):</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">-- Mas o que vocês querem, se o aeroporto já existe?</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">-- É que este aqui não serve mais. É muito pequeno. Comerciantes, empresários e outras pessoas daqui já entregamos um projeto para a Infraero aumentar o aeroporto, mas ela alega que, se ele crescer, não quer mais administrá-lo. Então, se é para manter esse aeroporto deficiente, é melhor que ele feche logo as portas, até que se construa outro -- respondeu.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">E (de novo) nós, da Baixada, ainda nem conseguimos erguer o nosso...</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Às 14 horas (portanto, depois de exatas 24 horas no Ceará), embarquei para Congonhas, não sem parar antes em Recife. Cheguei com uma enxaqueca miserável. Que melhorou logo depois de eu entrar em casa, quase às 11 da noite.</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas foi o de menos. A reportagem manchetou o jornal do domingo posterior ao da viagem. E as dores de cabeça desta pobre região rica não passam.</div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-72693468633948326162011-01-28T08:51:00.005-02:002011-01-28T08:53:45.679-02:0040 anos em 14 horas<div class="ii gt" id=":76" style="font-family: Verdana,sans-serif;"><div id=":77"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu_83fWSJLzxnJRLPrBeVZ-LTSnYSIQ6FB5TYywZ8xkTQiNC-Yp19pnhmIuavLPhR3HuBvdrAHAVjtBzgAfZiNPBAcvsEBtFTicbFpKrjc1jFNvJgIiDHz6pAiCm93d5J_wHiM1VNM3lD3/s1600/AT-20-1-11-PagA-7.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu_83fWSJLzxnJRLPrBeVZ-LTSnYSIQ6FB5TYywZ8xkTQiNC-Yp19pnhmIuavLPhR3HuBvdrAHAVjtBzgAfZiNPBAcvsEBtFTicbFpKrjc1jFNvJgIiDHz6pAiCm93d5J_wHiM1VNM3lD3/s200/AT-20-1-11-PagA-7.jpg" width="113" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><i><span style="font-size: x-small;">Clique para ampliar</span></i></span></td></tr>
</tbody></table><div><span style="font-size: small;">Euclides da Cunha escreveu: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte". Mas poderia ter redigido: "O repórter é, antes de tudo, um ignorante".</span><br />
<br />
<span style="font-size: small;">Pois eu, santista de nascimento e ainda residente na cidade (até quando o custo de vida deixar...), ignorava tremendamente quem foi e o que fez Rubens Paiva (1929-1971) — um conterrâneo exemplar, ex-deputado federal que, em meio mandato (eleito em 1962, foi um dos primeiros cassados após o Golpe de 1964), deixou mais marcas do que parlamentares de inúmeras legislaturas.</span></div><div><br />
<span style="font-size: small;"><a name='more'></a></span></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Sabia que Paiva havia sido torturado e morto nos tempos mais pesados da ditadura. Mas quem ele foi era algo que, confesso, deveria ter procurado saber há mais tempo, sobretudo por eu ser alguém curioso a respeito de aspectos históricos da cidade.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">E, como ocorre com a maioria dos repórteres ignorantes que se prezam, contar pela enésima vez o desaparecimento de Rubens Paiva (cujos 40 anos se completaram no último dia 20) e com novas cores era uma missão que eu teria de cumprir... em menos de 14 horas!</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">É fato: como muito raramente somos autorizados a fazer hora extra no jornal sem que a chefia se aborreça por causa disso, cada dia de trabalho tem sete horas, sem contar as escapadas durante o intervalo e nas quais, veja que ironia, aproveitamos para trabalhar — enquanto tem gente que usa o horário do trabalho, em tantos lugares e profissões, para enrolar um pouco. Em resumo, é o tipo de reportagem que se deve fazer com calma, tempo, pesquisa aprofundada e cuidado. No cotidiano da profissão, costuma só nos restar o cuidado, justamente o elemento que é por nossa conta e o mais difícil de tomar quando faltam os outros três.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Uma das fontes que me indicaram para entrevistar foi Marcelo Rubens Paiva. Jornalista e escritor celebrado por seu livro 'Feliz Ano Velho' (1982; ainda não o li), onde conta o acidente que o deixou paraplégico e cita o sumiço do pai, era fonte óbvia para dizer, também pela enésima vez, como foi, onde estava, o que viu e ouviu, o que e como fez e no que pensou.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Marcelo não aguenta mais falar no assunto. Claro, aborda o tema, vez por outra, em suas crônicas; deve ser imensamente doloroso ver o pai pela última vez aos 11 anos e nem sequer ter a possibilidade de velar seu corpo, jamais encontrado. Então, por que procurar pela mesma fonte novamente? Para aborrecê-lo? Para me aborrecer? Afinal, ninguém gosta de ser maltratado. Se ele me perguntasse "O que você quer saber, pois eu já disse tudo?", eu talvez não soubesse responder. Tenho o hábito, defeito talvez, de me pôr no lugar do outro.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Apostei em outra fonte: Vera Paiva, a mais velha dos cinco filhos de Rubens Paiva e único membro da família a não estar em casa no 20 de janeiro de 1971 em que Rubens Paiva foi levado embora. Ela estudava Inglês em Londres (Inglaterra) e, conforme me disse, soube dias depois por um jornal britânico, o 'Times', da detenção do ex-deputado.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Considerei seu depoimento excelente. Claro, sua formação intelectual é útil para que expresse claramente o que pensa. Mas suas palavras me ajudaram muito a reforçar uma dúvida pessoal que, quem sabe, será sanada neste governo: por que o Brasil não apura oficialmente os desaparecimentos, mortes, torturas, cassações cometidos entre 1964 e 1985 por meio de um grupo que, aqui, se pretende chamar Comissão da Verdade?</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Eu nasci a 12 dias do encerramento do Ato Institucional (AI) número 5, aquele que praticamente aniquilou as liberdades e garantias de segurança individuais no País. Entrei na escola no último ano do regime militar. Passei a adolescência sem ouvir uma palavra do que foi aquele período. Na faculdade, aquela época desgraçada foi abordada muito de passagem e sem qualquer contextualização que permitisse compreender o mínimo daquilo tudo, que fosse além das palavras de ordem.</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Por que sonegar as coisas de quem não viveu aquele tempo (e mesmo de quem viveu, porque não soube, em muitos casos devido à censura)?</span></div><div></div><div><br />
<span style="font-size: small;">Mas, voltando à reportagem e encerrando este texto, terminei meu trabalho satisfeito. Não deve, nem de longe, ter sido uma das melhores matérias já feitas sobre Rubens Paiva. Para mim, no entanto, serviu como um curso intensivo da História que não aprendi no colégio.</span></div><div></div><div><span style="font-size: small;">É preciso memória.</span></div></div></div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-11050996684996243352010-12-15T17:32:00.001-02:002010-12-16T16:00:10.244-02:00Isto é sorrir aliviado. Ou não<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwOpWgpIeqq1F8CrOaXLzNqQfbeqyA5MhGQ8HV1XK0LtLv28tGS31cw-9_o7N6oOAbin6Zfys2sxtl-jJ7yJVrwkU0ANCgxDOIzWll-rUwXjhL9hLY-ECCzS-m_JMOBZ-L3QwGAJvgUeI9/s1600/AT-13-7-06.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwOpWgpIeqq1F8CrOaXLzNqQfbeqyA5MhGQ8HV1XK0LtLv28tGS31cw-9_o7N6oOAbin6Zfys2sxtl-jJ7yJVrwkU0ANCgxDOIzWll-rUwXjhL9hLY-ECCzS-m_JMOBZ-L3QwGAJvgUeI9/s200/AT-13-7-06.JPG" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><b style="font-family: Verdana,sans-serif;"><i>Clique para ampliar</i></b></span></td></tr>
</tbody></table><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Às vezes, a desgraça é tanta que, quando acontece, a gente não fica com raiva: do contrário, se sente aliviado ao perceber que poderia ser pior.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Vi isso pelo menos duas vezes em julho de 2006, na segunda e última onda de ataques a locais públicos e pessoas atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que controla seus atos de dentro das cadeias, inclusive por telefone -- apesar de as celas não terem tomadas para a recarga de celulares. </span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><a name='more'></a></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">A primeira delas foi no dia 12. A Baixada Santista havia amanhecido com um rastro de violência e destruição do qual os paulistas tiveram amostra em maio daquele ano, quando o PCC, de envergadura sempre reduzida pelas autoridades, agiu pela primeira vez.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Com as orientações dadas pela subeditora Christiane Lourenço, responsável pela Pauta (função que, por coincidência, estou exercendo temporariamente, e não sei como ela consegue fazer isso há tanto tempo sem ter um troço), e ouvindo o rádio da viatura do jornal, fui atrás de fatos. O maior deles, no Viaduto Mário Covas, no Parque Bitaru, em São Vicente: um ônibus intermunicipal vindo de Praia Grande havia sido incendiado e totalmente destruído. Só restou a carcaça.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Mais do que o estado do coletivo, me chamou a atenção um homem de 48 anos, grisalho, meio calvo, de bigode, com camisa azul-clara e calça azul-marinho, que fumava um cigarro. E ria. Ria um riso de alívio, porque tinha dado tempo de pegar sua bolsa e sair correndo, bem pouco depois de dois menores armados espalharem gasolina no veículo, mandarem os passageiros descerem e fugirem. Deles, nem sinal.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Eu também ri, mas depois de um susto: ver a então colega de Redação Patrícia Diguê, de boné, camiseta e short, se aproximando de mim e do repórter-fotográfico Carlos Nogueira. Ela estava fazendo sua corrida matinal e que só seu deu conta do que estava acontecendo quando viu nós dois no meio da pista. Distraída, só depois olhou para o que tinha sobrado do ônibus. "Nossa!", exclamou. E continuou correndo...</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">No dia seguinte, 13, não ri. Tive notícia de outro incêndio ocorrido na véspera, também num ônibus, também em São Vicente. Na verdade, uma tentativa de incêndio: alguém jogou uma garrafa com combustível no veículo. Mas não deu aviso, ao contrário da dupla incendiária do viaduto. Quem pôde, saiu correndo.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Pior para Henrique, um menino de 2 anos e 9 meses, que vi no Setor de Terapia Intensiva de Queimados da Santa Casa de Santos, no Jabaquara. Ficou com queimaduras de segundo grau nas mãos, no rosto, no pescoço e em uma orelha. Voltava de um passeio ao Gonzaga, em Santos, com a mãe -- que estava de folga e, hoje posso dizer, era policial militar. Na época, ela me pediu para não revelar sua profissão.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">No fundo, nem precisaria. Porque, ao ver o garoto enrolado em ataduras e se lamentando, baixinho, por causa da dor, chorei. Minha filha é pouco mais velha do que aquele menino. E poderia estar lá, no lugar dele, como poderia ser com qualquer outra criança. Mas a mãe, até pelo cansaço, mostrava resignação. Saíram vivos, era o que importava naquela hora.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Não sei se coisas assim servem de lição para o rapaz de 16 anos que foi detido em casa, enquanto dormia, um dia após destruir um caixa eletrônico no Humaitá, em São Vicente, com um coquetel molotov (uma garrafa cheia de gasolina com um pano na ponta, que serve como pavio). Um dos coquetéis, aliás, estourou perto dele e lhe queimou pernas, braços e rosto.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Lição para garotos como esse, que vi e ouvi, diante dos policiais, dizendo ter feito aquilo por "pura emoção, senhor. Fui no embalo, senhor".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Lição para pensar. Afinal, como rebateu um dos PMs que o pegaram, "quer dizer que se te mandarem dar o rabo, tu vai no embalo?". O rapaz não respondeu. Eu não publiquei essa parte. Tenho certeza de que os editores cortariam.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">E o PCC é como Elvis: não morreu.</span></div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-52112721490014900702010-12-14T19:17:00.001-02:002010-12-14T19:19:43.128-02:00Você se lembra? Lembo!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiSxYdj9CazFuOG25cPSN_RhV7Ejq7-OnSkKGcTWkFburhGzr7WHZfhGioH_wQH4jsx911Z5om10iDbCcdl6Z-pd4WhRi_eEBU3nSVAe1wX_OyQWmzc-hSQoR0c4R9FYEVI6uzYo0ZuwhE/s1600/AT-14-6-06B.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiSxYdj9CazFuOG25cPSN_RhV7Ejq7-OnSkKGcTWkFburhGzr7WHZfhGioH_wQH4jsx911Z5om10iDbCcdl6Z-pd4WhRi_eEBU3nSVAe1wX_OyQWmzc-hSQoR0c4R9FYEVI6uzYo0ZuwhE/s200/AT-14-6-06B.JPG" width="200" /></a></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Quando se fala no DEM, sigla que representa o partido Democratas, no que você pensa? Eu, pelo menos, me lembro de que se trata do antigo PFL (Partido da Frente Liberal), uma dissidência do extinto PDS (Partido Democrático Social), que surgiu da Arena (Aliança Renovadora Nacional, a legenda de apoio à ditadura militar instituída no Brasil em 1964, após golpe de Estado).</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTMex06unjZGpD0Qc2pwC7nrK6QFLuHJZLxDZPRzlCUtxh9rvIJLpdT9yDEwxGlqPFDj2YlJu8vaYvr2KDrUeKZXS9xBBtbte73l4BQpZGlmjvg0G4Fl3rQqJjNmXr-CXfpo344LeU4CR5/s1600/AT-14-6-06.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="140" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTMex06unjZGpD0Qc2pwC7nrK6QFLuHJZLxDZPRzlCUtxh9rvIJLpdT9yDEwxGlqPFDj2YlJu8vaYvr2KDrUeKZXS9xBBtbte73l4BQpZGlmjvg0G4Fl3rQqJjNmXr-CXfpo344LeU4CR5/s200/AT-14-6-06.JPG" width="200" /></a><span style="font-size: small;">Mas, mesmo em legendas compostas por gente reacionária, há vida inteligente. E admirável, como o ex-governador paulista Cláudio Lembo. Esse homem não fez questão alguma de esconder que recebeu o governo das mãos de Geraldo Alckmin (PSDB, que deixou o cargo para concorrer, sem sucesso, à Presidência) com um rombo de R$ 1,4 bilhão. Aliás, um motivo que contribuiu para a venda da Nossa Caixa sob a gestão de José Serra (PSDB) -- um assunto para outro dia.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><a name='more'></a></span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Conheci Lembo em 13 de junho de 2006, dia em que, pela primeira (e única) vez, o Estado cumpriu um decreto assinado por Alckmin e transferiu a Capital de São Paulo para Santos, em homenagem ao 243º aniversário de nascimento do santista José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), Patriarca da Independência. Fazia um mês dos primeiros ataques atribuídos à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), ordenados de dentro de cadeias, e pouco menos tempo de uma célebre entrevista ao jornal 'Folha de S. Paulo': nela, o então governador disse haver, no Brasil, "uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Além de sincero, extremamente bem-humorado. Talvez porque só teria meio ano de mandato, o suficiente apenas para tocar o barco e ir para casa. Prefiro uma segunda hipótese, a de que ele é assim mesmo. Arrisco dizer que, se José Serra tivesse só um pouquinho dessas duas qualidades, estaria neste instante anunciando os ministros do governo que não assumirá a partir de 1º de janeiro próximo.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">E, além de sincero e extremamente bem-humorado, pontual. Lembo deveria chegar ao Paço Municipal às 8 horas. Eram 7h58 quando o repórter-fotográfico Rogério Soares e eu andávamos pela Rua General Câmara, a uma quadra da Prefeitura, quando avistamos o carro oficial do governador. Já estava subindo a rampa para se encontrar com o prefeito João Paulo Tavares Papa (PMDB). Saímos correndo.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">No gabinete do prefeito, Lembo deu entrevista coletiva. Como eu tinha contado, estávamos no intervalo entre a primeira e a segunda onda de ações do PCC (a outra ocorreria um mês depois), e ainda se vivia um certo medo de ações dos bandidos. Todos pareciam ansiosos para fazer perguntas. E surgiu a primeira, de uma repórter de TV local:</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- O que o sr. acha desta visita a Santos, que hoje se torna a Capital do Estado?</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Não dá para condenar a moça. Como não se conhecia Lembo muito bem, havia o temor de que ele fizesse como faria seu sucessor, que, ao ouvir perguntas mais duras, nada dizia -- virava as costas e ia embora, num mau costume que não perdeu. Mas, diante da gravidade daquele momento, me deu vontade de sumir. Juro, senti vergonha. </span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Enquanto respondia a outra questão, Cláudio Lembo foi interrompido por um repórter-cinematográfico. O fio da tomada do 'pau-de-fogo' (a luminária) havia se soltado e a luz se apagou. "Vou ter que acender a luz e bater o branco (regular as cores da câmera, o que se faz a partir de um fundo branco)".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Pois, de repente, Lembo abriu o paletó (como se fosse um super-herói puxando a camisa para fazer aparecer o emblema do personagem, como o Super-Homem) e gesticulou: "Pode bater! Bate no branco, mesmo! Essa elite...". Risos gerais, lógico, por causa da lembrança da entrevista que ele dera à 'Folha'.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Ainda se fizeram mais umas duas perguntas, até que chegou minha vez. Claro, falei no PCC.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Mas eu pensei que <i>você</i> fosse me fazer essa pergunta... -- sorriu Lembo, apontando para a repórter da TV. Logo ele se recompôs e, de forma séria, me garantiu uma bela retranca sobre o plano (não sei se efetivado) de se comprarem equipamentos estrangeiros para o bloqueio do sinal de telefonia celular em prisões.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Ainda me deu tempo de perguntar sobre política. Alckmin tentaria a Presidência, Serra disputaria a sucessão, e Lembo, um vice que assumiu o cargo com a saída do titular, nada tentaria. Portanto, o que seria de seu futuro político?</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Se eu morasse em Santos, seria no Saboó. Como vivo em São Paulo, vai ser no Araçá -- brincou, referindo-se a dois cemitérios. Ele estava com 71 anos...</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Foram coisas que não entraram na matéria, mas ajudaram, e muito, a colega Amanda Guerra. Na ocasião, ela estava redigindo a coluna 'Dia a Dia', a seção de política de 'A Tribuna'. Nunca a vi rir tanto.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">E Cláudio Lembo? Segue por aí: é presidente estadual do DEM. Lúcido o bastante para continuar engraçado num mundo político egoísta e desequilibrado.</span></div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-54213768466250283202010-12-02T10:27:00.004-02:002010-12-02T10:32:50.485-02:00O passado e a luz da vida<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhubb3LQWMCVGabQoV6nga066hvWwopXLVKskAx_gZxHAyK7giYyfw_jfShRjA53dLEvVW5OdJOHHee1aDWjDjlTNceLCbFB3gew-g1SXhpX4esmy0PVUAA4R4g-OKNprFghwm2y2XLpiqW/s1600/DL-Racionamento-1-6-01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhubb3LQWMCVGabQoV6nga066hvWwopXLVKskAx_gZxHAyK7giYyfw_jfShRjA53dLEvVW5OdJOHHee1aDWjDjlTNceLCbFB3gew-g1SXhpX4esmy0PVUAA4R4g-OKNprFghwm2y2XLpiqW/s200/DL-Racionamento-1-6-01.jpg" width="86" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i style="font-family: Verdana,sans-serif;"><b>Clique para ampliar</b></i></span></td></tr>
</tbody></table><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O Brasil ficou três vezes às escuras: em 1999, 2001 e 2009. Por causa de problemas estruturais do sistema elétrico nacional, seria preciso consertá-lo urgentemente. E, para fazer os reparos, usá-lo com menos intensidade.</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Por causa disso, após o segundo apagão, o Governo Fernando Henrique Cardoso determinou o racionamento de energia nas regiões Nordeste e Sudeste. Ah, claro, com "sobretaxas" variáveis de 50% a 200% do valor das contas aos que ultrapassassem determinadas médias de consumo.</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Obviamente, toda a mídia abordaria o tema de forma semelhante, com as recomendações básicas devidas. O que fazer de diferente num jornal regional, de alcance limitado, mas que, por força das circunstâncias, não poderia ficar alheio ao assunto?</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><a name='more'></a></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Naquele tempo, eu trabalhava no 'Diário do Litoral', onde tive minha primeira experiência em jornalismo impresso (entre o final de 2000 e maio de 2006, em duas passagens). O editor-chefe era Sérgio Moita, ex-'Cidade de Santos', que assim me saudava quando nos encontrávamos na Redação: "Rafael Pinto Bandeira, a Espada Continentina!".</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Bandeira (1740-1795) era um militar gaúcho de Rio Grande (onde, se não me engano, o Moita nasceu), descrito como valente e autoritário defensor das possessões portuguesas na então Capitania de São Pedro do Rio Grande. Um caudilho. Começou a pegar em armas antes dos 14 anos. Na fase final da vida, atuou na Corte, em Portugal, época em que engordou de tal forma que se tornou impossível, para ele, montar a cavalo sem ajuda. Aliás, conta-se que morreu numa dessas tentativas. Cada coisa...</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Bem, eu falava no racionamento. E, quando o Moita me deixou como pauta a explicação detalhada de como seria, quando começaria, onde seria feito, como se cobraria a tal sobretaxa, como aprender a ler o relógio medidor para se verificar o gasto de energia, falei com ele sobre meu avô materno, Alberto Motta:</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">-- Ele nasceu e viveu no Monte Serrat. Ele conta que, quando criança, o Getúlio (Vargas, 1882-1954, então presidente da República; a propósito, outro gaúcho) mandava apagar as luzes da cidade à noite, para que marinheiros alemães inimigos não avistassem a terra (era tempo da Segunda Guerra Mundial, 1939-1945; a ordem vigorou entre 1942 e 1943).</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">-- Ótimo! -- exclamou o Moita, sorridente. -- Você vai entrevistar seu avô!</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu me sentia desconfortável com a ideia de entrevistar um parente. Achava que deveria procurar por alguém que, ao menos, não fosse da família. Aceitei porque foi o Moita quem me pediu, e não, uma iniciativa minha para facilitar as coisas. Bobagem? Talvez. Afinal, eu sabia ser verdade o que meu avô já tinha me dito algumas vezes. E diria mais uma, ao telefone, quando liguei para casa (eu morava com minha mãe, meus avós e minha irmã).</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mesmo do outro lado da linha, ouvia meu avô, do alto de seus 70 anos, e imaginava -- como eu ainda faço quando conversamos sobre o passado dele -- a vida que levava aos 12, 13 anos; o subir e descer das escadarias do morro, todo dia; o pão, comprado numa longa fila, que saía "preto" por escassez de farinha durante a Guerra.</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">"Clima de guerra", em 2001, era o que dizia vivermos o então presidente da Agência Nacional de Petróleo, David Zylberstajn (que era genro de Fernando Henrique; e os tucanos reclamam do "aparelhamento" do Estado pelos petistas...). "Há um pouco de exagero", considerou meu avô, que cresceu lendo e ouvindo falar sobre bombardeios, campos de concentração e extermínio.</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A breve entrevista com o 'vô' Alberto foi, talvez, a mais importante que fiz na vida. Importante para mim, claro. E é -- olhe a redundância -- o que me importa.</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas engraçada foi a reação do fotógrafo e ex-colega de faculdade Ricardo Nogueira (hoje, na 'Folha de S. Paulo), quando foi lá em casa fazer a foto enquanto eu apurava outras coisas:</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">-- Teu avô toma água da fonte da juventude? Pô, eu cheguei lá, pediram pra eu esperar, e eu achei que ia encontrar um velho todo torto, quebrado... Aí, ele apareceu, maior que eu...</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pode ser que eu chegue lá. Por racionamento, já passei. Sem guerra?<i> </i></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><i>P.S.: Meus avós economizaram muita energia em 2001. Banhos bem rápidos. Televisão, só na hora da novela, com luzes apagadas. Quase nada nas tomadas. Não só a conta saiu de graça naqueles meses, como, pelas regras do racionamento, a companhia de eletricidade (na época, a Empresa Bandeirante de Energia) ainda teve de pagar para eles. Depois de uma guerra de verdade, aquilo foi fichinha para esse belo e econômico casal.</i></span></span>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-787663349729010522010-11-24T11:08:00.001-02:002010-11-24T11:08:29.596-02:00Para repensar a Anistia<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; font-family: Verdana,sans-serif; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7H0QIhfLy0im6qdYXu6UMjvLtsOJzA0WBEoxzGzStqrgO2bcKds3uNkbFpp0kBRC_VH8CitTsUpMvva3rx9bFegde1NvkMluWXwPaK3LxJZipRcmX35cDVvAYma3Aux5Equ7UoEE4lCjM/s1600/AT-7-11-10-A7.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7H0QIhfLy0im6qdYXu6UMjvLtsOJzA0WBEoxzGzStqrgO2bcKds3uNkbFpp0kBRC_VH8CitTsUpMvva3rx9bFegde1NvkMluWXwPaK3LxJZipRcmX35cDVvAYma3Aux5Equ7UoEE4lCjM/s200/AT-7-11-10-A7.jpg" width="113" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: x-small;"><i>Clique para ampliar</i></span></span></td></tr>
</tbody></table><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Nos sábados em que estou de plantão, a pauteira é Rosa Maria dos Santos, uma das editoras do 'Expresso Popular', jornal do mesmo grupo e que divide a Redação com 'A Tribuna'. Mas, ainda na noite de sexta-feira, ela tinha recebido uma missão do editor-chefe, Carlos Conde: pedir a um repórter para encontrar...</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- ... Esse cara aqui -- apontou Rosa, para o trecho de uma reportagem publicada naquele dia pelo 'Estadão', sobre um processo impetrado pelo Ministério Público Federal (MPF) contra quatro militares reformados acusados de torturar 20 pessoas e levar outras seis à morte no início da década de 1970, período mais cruel da ditadura militar (1964-1985).</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: small;"><a name='more'></a><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">O "cara" em questão era o tenente-coronel do Exército (da reserva) Maurício Lopes Lima. Duas coisas chamaram a atenção da chefia: Lima vive em Guarujá, Baixada Santista, área de abrangência de 'A Tribuna'; e, dos quatro réus, ele foi o único apontado como suposto torturador de uma mulher chamada Dilma Vana Rousseff Linhares. Simplesmente (e, hoje, sem o Linhares no sobrenome), a presidente da República eleita em outubro passado.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Com o 'cardápio' de sábado recebido antecipadamente, confesso que passei uma parte da noite pensando em como encontrar o cidadão. No fundo, não acreditava (e não era apenas eu o incrédulo) que, ainda mais num sábado, ia achar o homem. E para falar de uma coisa tão grave quando a acusação de ter torturado gente até a morte.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Recorri a algo que faço há anos e que, por causa de uma estudante da Universidade Santa Cecília (Unisanta), descobri só recentemente que tem nome: à RAC (Reportagem com Auxílio do Computador). Traduzindo, acessei o Guia de Assinantes da Telefônica na internet e fui ao Google. Doce ilusão.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Mas a RAC foi útil: num estalo, procurei saber se a notícia da ação do MPF estava no site do... MPF. Não só estava como havia, também, a íntegra do processo para consulta. E, ali, constava o endereço residencial de Maurício Lopes Lima. Incrível, mas não poderia ser mais fácil. Vale, até, como dica: quando quiser tentar falar com alguém que está sendo processado, veja o processo, pois o endereço é necessário para a intimação do réu.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">E que certeza eu poderia ter de que o camarada iria querer falar comigo? Nessas horas, receio não conta: fui até lá com a fotógrafa Vanessa Rodrigues. Naquele sábado frio e chuvoso, chegamos ao prédio onde vive o militar, no Bairro das Astúrias, e meti o dedo no botão do interfone.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Sr. Maurício?</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Sou eu.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Sou Rafael, do jornal 'A Tribuna'. Desculpe vir sem avisar, mas preciso conversar com o senhor.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Em dois segundos, a resposta que eu queria ouvir:</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Ah, sim, vou atender -- e abriu o portão.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Para aliviar a ansiedade (e não sei por que a gente fica ansioso com certas coisas: os outros são tão humanos -- ou desumanos -- quanto nós), brinquei com a Vanessa: "Agora, a gente leva um tiro".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Pois, pela aparência e pelo jeito bonachão, o suposto torturador da presidente eleita Dilma Rousseff não nos daria mais do que balas de hortelã: baixinho, gordinho, careca, olhinhos vibrantes, 75 anos de idade, sozinho num apartamento em reforma. E, veja só, timido: "Fotos, não. Eu sou muito feio...".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Nem de longe estou absolvendo o homem, que mais de uma vez se contradisse, na entrevista. Frequentemente entrevisto políticos "gente boa" que não pensam duas vezes em usar dinheiro público em proveito pessoal.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Maurício Lopes Lima não negava respostas. Era um misto de ironia, escárnio, defesa do indefensável, de verdades-mentiras. Acusado de tortura, tinha CDs de Chico Buarque na estante. Terá entendido letras como 'Cálice', uma crítica velada à ditadura ("... Afasta de mim esse cálice/De vinho tinto de sangue")?</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Foi mais fácil a entrevista do que a edição do material. Já estava decidido: seria a manchete. Entreguei a página pronta. Como só tinha uma linha para fazer o título e eu não podia dizer, da própria boca, que o militar torturou Dilma (posso até acreditar, porém, não tenho provas), escrevi algo meio genérico, mas que achei impactante: "Ele é acusado de torturar Dilma".</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Não, o título é fraco. Vamos pensar noutra coisa -- determinou Dario Palhares, um dos editores-executivos do jornal e que, nos plantões em que trabalho, é o secretário de Redação. Pediu, também, para explicar melhor como surgiu e o papel da Organização Bandeirante (Oban, descrita na reportagem; clique lá e leia), para pôr em itálico os termos "terrorismo" e "terroristas", exceto no caso do terrorismo de Estado na ditadura.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Enquanto fazia os ajustes, o Dario apareceu na mesa onde eu estava, dizendo que deveríamos procurar advogados de ex-presos políticos torturados, por orientação do editor-chefe, Carlos Conde. Já eram sete da noite, e o jornal fecha mais cedo aos sábados, normalmente antes das dez. Argumentei que não dava: estava ficando tarde, eu ia precisar de mais uma página só para aquilo (um espaço que não tínhamos), e propus que se fizesse uma suíte (continuação do mesmo assunto) para a edição de segunda. Graças a Deus, aceitaram.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Ao mesmo tempo, pensava-se noutro título. "O carrasco de Dilma na ditadura" foi a opção. Mas, ao ponderar que nem mesmo a presidente eleita acusava o militar de tê-la torturado pessoalmente, mas de assistir às sessões sem ordenar que os torturadores parassem, desistiram. Ficou o que está na página.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Cheguei em casa quase às dez da noite. Às dez e meia, o Dario me ligou. Refizeram boa parte do texto, com base em declarações anteriores de Dilma à 'Folha de S. Paulo' e com descrições da tortura que sofreu enquanto esteve presa. Ele leu tudo o que reescreveram (o Conde e ele). Quando o Dario acabou e me perguntou "Tudo bem?", pus em dúvida se tudo aquilo caberia na página. Coube: a Diagramação deu um jeito. O pingue-pongue (perguntas e respostas) ficou praticamente intacto, exceto por uma dúvida que o Dario tirou comigo às onze e meia, em outro telefonema.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Gostei do resultado, a não ser por uma coisa fundamental: no texto de abertura, reescrito, tiraram um 'efe' do sobrenome de Dilma. Foi engano, acontece. Mas eu digo isso agora: no dia seguinte, às seis e meia da manhã, antes de começar a escrever a pauta, queria jogar o jornal fora. A matéria, afinal, era assinada, e o erro acabou sendo 'meu'. Certa vez, ouvi que errar o nome de alguém é como cortar fora um dedo dessa pessoa. Exagero ou não, fica chato.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">No fim, o de menos. Nunca uma reportagem minha tinha repercutido tanto. Foi bastante reproduzida em sites de jornalistas renomados e em portais e blogs de esquerda. Um produtor do SBT de São Paulo me procurou para pedir o endereço do militar. Não sei se o achou.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Neste instante, enquanto o processo judicial transcorre, Maurício Lopes Lima está de volta à tranquilidade de seu anonimato e à beleza das praias que, em 1992, o fez se mudar para Guarujá. Aquilo de que lhe acusam segue impune. Não vivi aquele tempo, mas, tentando entender o que li, foi uma época de barbaridades inimagináveis.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Como é que tentam impedir a punição dos criminosos oficiais pela tortura que cometeram? A Justiça brasileira andou lendo errado a Lei da Anistia. Neste ponto, parece haver juízes mais bem alfabetizados no Chile, no Uruguai, na Argentina.</span></div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-74998691472659629432010-11-23T08:50:00.007-02:002012-12-06T08:48:33.163-02:00O Rio continua lindo? Não vi...<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYMsRIZtWVFWsRJDBWASSA9J6ytlSmxNZ1NGtlOZ459QplirE6XPYrlMkQOhv-yqkiDRBeVZi9HtFv4FOUXyINuhnX6wLqcopNYkQV60ZwLqW9Hz3xcPATV_TKFVxhC-_7FyEb2_Tyduik/s1600/AT-7-3-08-PagA-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYMsRIZtWVFWsRJDBWASSA9J6ytlSmxNZ1NGtlOZ459QplirE6XPYrlMkQOhv-yqkiDRBeVZi9HtFv4FOUXyINuhnX6wLqcopNYkQV60ZwLqW9Hz3xcPATV_TKFVxhC-_7FyEb2_Tyduik/s200/AT-7-3-08-PagA-3.jpg" width="112" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Clique para ampliar</span></span></i></td></tr>
</tbody></table>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Só mesmo sendo jornalista para ir ao Rio de Janeiro meia hora depois de saber que você vai viajar, chegar lá às três da tarde, ir embora para casa antes das oito da noite e escrever a reportagem para a edição do dia seguinte.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">E eu que previa um dia tranquilo. Naquela época, fazia parte da equipe da manhã de 'A Tribuna' e estava com duas pautas em andamento. De uma, não me lembro mais; a outra se referia aos 200 anos da chegada da Família Real portuguesa ao Brasil e, pelo que tinha entendido, seria para dali a dois dias. Mas já tinha material suficiente: escreveria a matéria e sairia mais cedo, para compensar horas extras de outros dias.</span><br />
<br />
<a name='more'></a><br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Passava um pouco do meio-dia quando eu voltava do almoço. Foi quando saiu do 'aquário' o então editor-chefe, Marcio Calves.</span></div>
<br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- O que você está fazendo?</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Duas matérias. Uma já está pronta.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- A outra é pra amanhã?</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Não -- respondi, sobre a tal matéria da Família Real.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Você pode ir pro Rio de Janeiro agora, agora, agora? O Papa, o Pelé e o Serra vão estar no escritório do Niemeyer para ver um projeto pro Museu Pelé!</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Só me restou ligar pra casa e avisar minha mulher de que chegaria (bem) mais tarde. Ela até achou engraçada essa viagem repentina. Companheira como ela, nem com vela acesa...</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Eu nem sabia o que sentia. Só me lembrava de que, aos 29 anos de idade, jamais havia viajado de avião. E fui-me embora com a Patrícia Cruz, fotógrafa, que na véspera tinha voltado... do Rio, aonde fora com a colega Daniela Paulino cobrir mais uma etapa do Big Brother Brasil (acho que a santista Juliana Góes estava no paredão; acho aquilo uma <i>big</i> bobagem, não me desce, mas paciência).</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Chegamos lá, avisei à Redação, tomei um táxi rumo à Avenida Atlântica, 3940 (o escritório de Oscar Niemeyer, em Copacabana) e... tocou o telefone. Era a editora do caderno Local, Lídia Maria de Melo.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Rafa, e a matéria sobre a Família Real?</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Não é para sábado?</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Não. É pra amanhã. Venderam anúncios para esse dia. Como vamos fazer?</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Menos mal: por sorte, viajei com o laptop do jornal e estava com o bloco onde tinha feito anotações para a reportagem. Mandaria tudo por e-mail. E chegamos ao prédio do Niemeyer.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Ia ligar o computador, quando a Patrícia me disse para usar uma tomada. Senão, ficaríamos sem bateria para enviar as fotos ao jornal.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O edifício era muito acanhado. Imagine casas geminadas. Em Copacabana, os prédios mais velhos da orla são colados uns aos outros, formando um paredão ainda pior do que o santista. E o de Niemeyer era tão velho que não dispunha nem sequer de uma tomada com três furos para encaixar o fio do laptop. Adaptador? Nem pensar: o zelador jurou que não tinha.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">E eu, que não bebo, saí a procurar um bar em Copacabana. Um bar com tomada trifásica pra ligar o laptop.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Deu certo. Escrevi a matéria de abertura sobre a Família Real e mandei por e-mail. Ia começar a retranca quando a Patrícia apareceu, desesperada, no bar. "Eles estão chegando! O porteiro falou que viu o Pelé!".</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Nem Pelé, nem Coutinho, nem Rodolfo Rodriguez. Errou, como se fosse possível errar a figura do Pelé. E já não dava mais pra voltar pro bar e ligar o laptop de novo: uma hora ia ser verdade. Fiz a retranca à mão, no bloquinho. Deu tempo, porque o prefeito João Paulo Tavares Papa, o então governador José Serra e o Pelé só chegariam uma hora depois.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Aí é que foi a briga. Além de não ter tomada com três furos, o prédio do Niemeyer só tinha um elevador. Para quatro pessoas. Nem sei quantas viagens todo o pessoal de jornal, rádio e TV que estava lá precisou fazer para chegar ao décimo andar, onde fica o escritório. Mas que Pelé e Niemeyer apertaram as mãos umas três vezes para garantir fotos para os jornalistas, isso foi.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Num certo momento, entrei numa roda de jornalistas que falavam com o Niemeyer. Pena que não cheguei em tempo de uma cena que o Filippo Mancuso, então repórter da TV Tribuna (afiliada da Rede Globo na Baixada Santista), me contou:</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Arquiteto Oscar Niemeyer, 100 anos de idade... -- discursava um repórter, começando uma pergunta.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">-- Cem, o car.... -- esbravejou o homem, balbuciando aquela palavra que termina com 'alho'.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">O que perguntar pro camarada? Num estalo, me lembrei que, poucos dias antes, o presidente de Cuba, Fidel Castro, havia se afastado do poder após 49 anos, por motivos de saúde. No discurso de despedida, ele citou Niemeyer, arquiteto mundialmente conhecido e comunista convicto, dizendo que, como o arquiteto, "se deve ser coerente até o final".</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Ler é bom. Foi essa a minha deixa. Graças à 'sensibilidade' do pessoal quanto ao tema, logo que fiz minha primeira pergunta, todo mundo desligou as câmeras e os gravadores, e acabei fazendo uma breve entrevista exclusiva (veja a reportagem, clicando na figura para ampliar a página) com o homem. "Vai acabar (o império norte-americano), porque é uma merda", profetizou.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Fomos ao aeroporto de carona no táxi que o Filippo chamou. Do táxi, a Patrícia começou a mandar as fotos. Enviou a última já na cabine do avião. Ali, enfim, o laptop era 'meu'. Nos 50 minutos de voo até São Paulo, não abri a boca: passei a limpo a retranca da Família Real, transcrevi a exclusiva com o Niemeyer e comecei a esboçar alguma coisa da matéria. Enviei o e-mail com a retranca já no carro da TV, em movimento, saindo do aeroporto (a viatura tremia e eu sofria para botar o cursor do laptop no botão 'Enviar', pra mandar a mensagem).</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">À 1h35 da madrugada, ficou pronta a página que você pode ver no alto, à direita. Foi o fim de um dia que, para mim, durou 17 horas. Boas horas.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">"Ah, mas, e do Rio, você não diz nada?". Só três lembranças: uma folha seca de árvore, caída na calçada, em forma de coração (adivinhe para quem trouxe), um molhe de pedras (parecido com o do Emissário Submarino, em Santos) onde se construiu um casarão para hospedagem de militares da Marinha e um posto de combustíveis no canteiro central da Avenida Atlântica, bem parecido com o que existe no Tapetão do Itararé, em São Vicente.</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">
<span style="font-size: small;">Se o Rio continua lindo, é por fazer lembrar a casa da gente.</span><br />
<br />
<br />
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
<br />
<strong>AQUI, A ÍNTEGRA DA BREVE CONVERSA QUE TIVE COM OSCAR NIEMEYER</strong><br />
<br />
<em>Oscar Niemeyer também é mundialmente conhecido por defender o comunismo. Já recebeu, no Rio, a visita do ex-presidente cubano Fidel Castro. E o arquiteto foi mencionado no artigo em que Castro abdicou do cargo, após governar a ilha por 49 anos. Ao citar o arquiteto, Fidel escreveu, no texto em que comunicou sua renúncia, que "se deve ser coerente até o final". E, aos 100 anos, Niemeyer fez jus à afirmação, ao rechaçar "o poder do império norte-americano", como mostrou nesta rápida entrevista a A Tribuna:</em><br />
<br />
<strong>Pergunta: Com a saída de Fidel, que reflexão o sr. faz a respeito do que ele disse?</strong><br />
Resposta: Mas ele continua participando da vida cubana, da luta, da Revolução Cubana... Foi um líder, não apenas de Cuba, mas da América Latina. Fidel é uma figura que a gente tem que ver com prazer porque ele está ao lado do povo dele. Quer uma vida melhor para todos, mais justa, todos juntos, de mãos dadas, sem preocupações de mando, sem o poder do império norte-americano, que a vida deve ser igual para todos... É uma grande figura.<br />
<br />
<strong>P.: Imagina que, futuramente, sem a presença dos irmãos Castro, isso poderá se manter?</strong><br />
R.: Não sei, mas ele (<em>Fidel</em>) está bem representado (<em>seu irmão, Raúl, de 76 anos, presidiu Cuba interinamente e foi mantido no cargo</em>). Ele vai continuar a ser, sempre, o conselheiro do povo cubano. Você sabe que, um dia, ele mandou armar todo o povo cubano, todo mundo (<em>deveria</em>) ter um revólver em casa? Você acha que isso é fato possível de fazer em outros lugares? É preciso ter confiança no povo. A luta continua, a briga continua, porque a reação não acabou. (<em>O "império"</em>) Vai acabar porque é uma merda.</div>
Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5447929060892473836.post-55677746780317909652010-11-22T11:05:00.007-02:002010-11-24T11:08:46.818-02:00A primeira manchete<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; font-family: Verdana,sans-serif; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie3v-8y0yCpbtq8S-qTiCDnWsggwZvG481KDZAx7mFzEKpnJQ5-Vo-TqC-gZEUUfp4DImnJz1yjHgYHO9tmCMDOxD8tg3wD9ba1iBM6A4jLO7ZyMpdz7-Cug7lhnKUaCTcjAOPWicK_MFN/s1600/AT-19-5-2006jpeg.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie3v-8y0yCpbtq8S-qTiCDnWsggwZvG481KDZAx7mFzEKpnJQ5-Vo-TqC-gZEUUfp4DImnJz1yjHgYHO9tmCMDOxD8tg3wD9ba1iBM6A4jLO7ZyMpdz7-Cug7lhnKUaCTcjAOPWicK_MFN/s200/AT-19-5-2006jpeg.jpg" width="112" /></a></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i>Clique para ampliar</i></span></td></tr>
</tbody></table><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">A primeira semana de trabalho em 'A Tribuna', em maio de 2006, foi movimentada: ao mesmo tempo, ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC, que acompanhei) e desdobramentos das investigações sobre a Máfia dos Sanguessugas -- um suposto esquema entre políticos e empresários para a compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras e ONGs no País inteiro. A aquisição era feita com dinheiro oriundo de emendas de parlamentares ao Orçamento do Governo Federal.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">A Baixada Santista estava no meio dos dois problemas. Mas, sobre as ambulâncias, uma instituição chamada Associação Beneficente e Promocional Movimento Alpha de Ação Comunitária (Maac), vinculada à igreja evangélica Assembleia de Deus, de Santos, comprou 13 furgões de uma empresa suspeita: a Suprema-Rio Comércio de Equipamentos de Segurança e Representações, do Rio de Janeiro, cujo proprietário havia sido preso após ter seu nome citado em denúncias de irregularidades. O dinheiro com que a Maac comprou os veículos provinha de emendas de deputados federais sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.</span><br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><a name='more'></a><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Em meio a uma avalanche de informações que pipocavam pelo Brasil, acabei tendo conhecimento de uma notícia: a de que, diante das irregularidades constatadas, o Ministério da Saúde decidira suspender o pagamento de convênios para compra de ambulâncias que fossem financiados com emendas parlamentares. Essa informação me foi transmitida pela assessoria do ministério, discretamente, no meio das respostas de um questionário que eu havia mandado, um dia antes, sobre o convênio com a Maac e as providências a serem tomadas para sanar esse e os demais problemas encontrados.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Eu não sabia (até porque não tinha tamanha pretensão): a notícia que me deram era um furo nacional. Ninguém tinha dado nem sequer a cogitação de que os cerca de 2.600 convênios em andamento, na época, poderiam ser bloqueados.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Mas eu tinha só uma semana no jornal. Compreendo que seria difícil confiar, de olhos fechados, em alguém que acabara de chegar. Eram por volta de 23 horas quando, já na cama, ouvi o celular tocando. Na linha, Mário Jorge, editor de Primeira Página do jornal.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span> </div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Rafa, onde foi que você viu essa informação dos convênios?</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Estava no meio das respostas que o Ministério da Saúde me mandou -- respondi.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">-- Você tem como me mandar esse documento? Pode ser a manchete de amanhã.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Tinha, mas pedi paciência: naquela época, eu não tinha banda larga em casa. O documento ia levar uns dez ou 15 minutos para chegar, em conexão discada (ligar o computador, apenas, demorava quase cinco minutos). Enviei o texto, confirmei o recebimento, fui dormir.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Foi minha primeira manchete em 'A Tribuna'.</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">Quatro anos e meio depois, o caso dos sanguessugas ainda está por isso mesmo.</span></div>Rafael Mottahttp://www.blogger.com/profile/08722854706667050867noreply@blogger.com3